Documentário produzido em 2001, com roteiro de João Jardim e direção de Walter Carvalho, onde o título da obra remete à citação atribuída a Leonardo Da Vinci, na qual diz que ”Os olhos são a janela da alma e o espelho do mundo, reúne depoimentos de 19 pessoas com distintos graus de deficiência visual, onde falam de como percebem o mundo, de como se vêem e de como vêem os outros. Os entrevistados se relacionam de alguma maneira com fotografias e situações cotidianas associadas à visão – são compositores, cineastas e atores, profissões que, para serem exercidas, exigem a utilização do olhar. O leque de entrevistados é amplo. Entre eles estão o músico Hermeto Pascoal, o escritor José Saramago, a atriz alemã Hanna Schygulla, o poeta Manoel de Barros, a cineasta Agnès Varda, o neurologista inglês Oliver Sacks, a atriz Marieta Severo, dentre outros.
As pessoas entrevistadas têm diferentes relações com o sentido da visão: alguns são cegos, outros míopes, outros estrábicos; outros trabalham com o olhar. Os diretores recorreram à filosofia, à medicina, à biologia, à musica e à literatura para investigar o que é a visão.
Este documentário tem como objetivo discutir sobre a exclusão dos deficientes visuais, sobre nosso conceito de visão, da deficiência visual e sobre os vários sentidos que nos fazem interagir com o mundo, pois tem também como objeto de investigação um tema abstrato: “a visão”, “o olhar”.
O documentário “Janela da Alma’’ levanta um questionamento: Afinal, como vemos o mundo? Através dos olhos ou muito além deles? Há quem acredite que a visão se limita a tudo que enxergamos e há, também, quem acredite que a visão é apenas detalhe. A percepção do mundo não é necessariamente percebida apenas pelos olhos. Se enxerga também pela sensibilidade, pelas emoções e pela capacidade, que todos temos, de enxergar além do que se vê. Como prova desse argumento, temos os deficientes visuais.
As imagens são focadas, desfocadas e refoçardas, alterando a percepção do espectador, mostrando um mundo saturado de imagens que visam atrair o olhar para o consumo.
Ruptura
Blog criado para a disciplina de Fotografia III ( 2015.1) do curso de Artes Visuais, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), ministrada pela Profa. Valecia Ribeiro. O objetivo desse blog é registrar o desenvolvimento do meu processo de criação na construção de uma poética sobre o questionamento do olhar.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
Karatê - O sarará
Negro do cabelo loiro, sarará, com uma perna defeituosa. Este é Karatê, figura que perambula pelas ruas de Cachoeira com um saco nas costas, aparentemente alheio ao que se passa ao se redor. Karatê não dialoga verbalmente, sua conversação é consigo mesmo, num monólogo inexpressivo e vazio. Quando se dirige a alguém é para pedir alimento, e o faz em casas específicas e repetidamente, dia após dia. Escolhe a quem vai pedir alimento, cumprindo uma rotina de horários que os seus colaboradores já conhecem.
Às vezes cantarola modinhas antigas e aí se percebe que um dia foi um cidadão comum. Pouco se sabe como chegou à loucura, mas não nasceu assim, trabalhava, tinha uma vida social ativa, tendo inclusive convivendo com pessoas da alta roda social.
Gosta de ficar sentado nas calçadas, observando o vai e vem das ruas. De vez em quando cumprimenta uma pessoa que passa, não se sabe se por ter tê-la reconhecido ou porque sua insanidade cria uma possível amizade.
Apesar de ser um pedinte e morar na rua, Karatê é considerado pela população. Ninguém o maltrata, todos ajudam. Sua aparência estranha não o faz distante, apesar de viver em sua realidade e pouco interagir com a população local, Karatê virou um personagem local.
Sandrinha - A enigmática
Sandrinha, como é conhecida, é uma figura meio Zumbi. Passa como se nada a tocasse, alheia a tudo que ocorre ao redor. Não interage com ninguém. Pela sua aparência sorumbática não atrai a simpatia da população, todos a olham de longe, com certa desconfiança e apatia. Os sinais de abandono social casam perfeitamente com a figura da Sandrinha. Enigmática, ela perambula pelas ruas, sem demostrar qualquer sinal de razão. Parece que escolheu se ausentar de si mesma e do mundo.
Sandrinha chama atenção, não porque sua imagem atrai, mas porque choca, incomoda. É a degradação humana visível e latente. Ver Sandrinha causa um certo medo do encontro com o desconhecido e misterioso plano da insanidade. Sandrinha é o retrato da fragilidade humana, da ausência de cuidado e proteção familiar e social, é um ser esquecido, perambulante. Por outro lado Sandrinha tem algo que revela uma beleza anterior, revela que naquele corpo fantasmagórico já houve uma aparência feminina.
A conexão de Sandrinha com o mundo é através da bebida, que ela pede às pessoas pelas ruas. É uma forma de participar do meio social. Mas logo após que é satisfeita sua vontade, ela volta para seu ostracismo.
Djalma - O lúdico
Observar Djalma foi um processo interessante. Ele é uma figura excêntrica, que passeia entre a insanidade e a irreverência. Dando a impressão, de vez em quando, de compreender perfeitamente o que ocorre ao seu redor. Ele é do povo, especialmente das festas de rua. Tanta é a sua assiduidade nos eventos locais, que se tornou quase parte deles. Sua figura dançante, desinibida e lúdica o torna um personagem, que parece encontrar na alegria dos festejos uma forma de inserção social. Sua conexão com a sociedade se dá justamente por meio dessa presença constante nos eventos cívicos e festivos de Cachoeira. Fora disso ele passaria despercebido.
Se a insanidade é dura, o isolamento é ainda pior. Mas Djalma parece superar esta realidade, ele é popular, se conecta através da alegria e da dança, esquisita mas ritmada, e a dança o conecta com os outros. Assim, Djalma, ao percorrer a trilha festiva e lúdica, recriou a sua identidade. Ainda que esteja desprovido de normalidade, ele tem uma personalidade, que é o seu vínculo com uma sociedade que tende a desprezá-lo.
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